segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Cientista, Racista, Machista e Homofóbico


Em entrevista a um jornal britânico na semana passada, o biólogo James Watson, 79 anos, brindou toda a imprensa mundial com declarações racistas como não se viam a muito tempo.

Ele simplesmente afirmou ao jornal "The Sunday Times" que os africanos são menos inteligentes do que ocidentais e, em razão disso, se declarou pessimista em relação ao futuro da África.

"Todas as nossas políticas sociais são baseadas no fato de que a inteligência deles [dos negros] é igual à nossa, apesar de todos os testes dizerem que não", afirmou o cientista. "Pessoas que já lidaram com empregados negros não acreditam que isso [a igualdade de inteligência] seja verdade".

As declarações geraram uma maré de críticas de cientistas, sociólogos, políticos e ativistas de direitos humanos. Este mesmo cientista foi ganhador do Prêmio Nobel justamente por ter descoberto a estrutura do DNA trabalhando em conjunto com Francis Crick, no ano de 1953.

Mas para quem acha que isso foi pesado demais pode perder a esperança. A declaração ao jornal foi apenas uma forma menos educada de expor o que ele já havia escrito em seu recém-lançado livro "Avoid Boring People" (Evite Pessoas Chatas):

"Não há razão firme para crer que as capacidades intelectuais de pessoas geograficamente separadas evoluam de maneira idêntica. Nosso desejo de considerar poderes iguais de raciocínio como uma herança universal da humanidade não vai se prestar a isso".

As frases do Sr. Watson lembram muito o período do séc. XIX em que alguns senhores defendiam o determinismo biológico.

A idéia defendida era de que os seres humanos nasciam determinados biologicamente em sua inferioridade ou
superioridade, e que a humanidade era apenas um subproduto deste fator, não interessando as características sócio-culturais.

Foi através dessa idéia que tentaram legitimar o domínio dos grupos sociais nos Estados Unidos e até hoje vemos pessoas com essa idéia distorcida da evolução humana.


Separei uma frase de T.H.Huxley, que em muito lembra as declarações do Sr. Watson.

“Nenhum homem racional, bem informado, acredita que o negro médio seja igual, e muito menos superior, ao branco médio. E, se isso for verdade, é simplesmente inadmissível que, uma vez eliminadas todas as incapacidades de nosso parente prógnato, esse possa competir em condições justas, sem ser favorecido nem oprimido, e esteja habilitado a competir com êxito com seu rival de cérebro maior e mandíbula menor em um confronto em que as armas já não são as dentadas, mas as idéias”.


Podemos ver que ele deve ter se inspirado nestes valores para elaborar as "pérolas da ignorância" divulgadas na semana passada.

Watson é conhecido por suas opiniões polêmicas. Em um de seus livros "Genes, Girls and Gamow", ele se declarou favorável a um tratamento genético para deixar mulheres feias mais bonitas. Em outra ocasião, defendeu o direito ao aborto, se as grávidas pudessem saber se a criança nasceria homossexual.

Dias depois ele se desculpou em um artigo cheio de retórica científica, argumentando que foi mal interpretado em suas palavras. Acho que nem ele acredita nisso.

A ciência teu seu compromisso primordial com a vida. Seja ela da forma que for. Hoje, ele pode ser considerado qualquer coisa, menos um cientista.

O Sr. James Watson se mostrou um ser machista, racista e homofóbico. Talvez a premiação do Nobel tenha sido muito comemorada por ele ter sido declarado como uma das "grandes mentes" da época, mas com certeza ninguém vai aplaudir o que o Sr. Watson fez desta vez.

Um comentário:

josé guilherme disse...

Que absurdo!!! Um ícone que eu usava como referencia na descoberta do modelo em dupla helice do DNA para meus alunos. Agora, resta-me excluido do holl de personalidade que têm interesse em somar através das diferenças, fenotipicas e genotipicas.